A simbologia da «toalha de mesa»
Um pequeno apontamento sobre a «toalha de mesa» durante a Idade Moderna.
«Sobre a mesa estende-se a toalha, (…) é sempre branca, bem como os guardanapos. (…) O branco é sinal de higiene, de asseio, de limpeza, de pureza e de sagrado. (…)
Qual a função da toalha? Cobrir a mesa? Servir de suporte ao alimento? Separar o alimento da mesa? Cobrir o alimento?
A observação das fontes de que dispomos leva a algumas considerações de onde não se pode apartar o simbolismo religioso, pois, observando os documentos iconográficos, repara-se que há alimentos que estão sobre a toalha e há outros que estão sob ela. Há ainda outros que assentam directamente na mesa. Se entendermos que as formas pintadas ou esculpidas acarretam simbologia, a toalha estende-se pela mesa como símbolo da liberalidade de Deus: Ele, Deus alimentador, oferece o alimento aos homens.
Se a toalha se estende sobre os alimentos é significado da Divindade que cobre, com a sua sombra; à maneira de bênção, aqueles alimentos. É sintomático que esta solução aconteça com os doces, os alimentos mais preciosos que são, também por isso, guardados para o final das refeições.
Percorrendo a obra de Josefa de Óbidos, uma das pintoras que mais recorre a este elemento e o trabalha plasticamente com diferentes significações, encontramos este véu de cobrir e de revelar, por exemplo, em «Natureza-morta: cesto com bolos e toalhas» (de cerca de 1660, colecção particular, Lisboa) e nas duas naturezas-mortas com «Doces e Barros» (ambas de 1676 da Biblioteca Municipal Anselmo Braamcamp Freire de Santarém).
Com efeito, a toalha está cheia de significado e os pintores souberam tirar proveito disso para comunicarem e expressarem determinados discursos.»
Fonte
DUARTE, Marco Daniel – «Sacrum Convivium». Formas e conteúdos da ceia do rei de Portugal na Idade Moderna a partir das figurações icónicas, em De Arte, Revista de Historia del Arte, 4, Léon [Espanha], Universidade de Léon, 2005, páginas 96-97